O peso dos juros e o fracasso empresarial no Brasil

No Brasil, a trajetória de muitos empresários não é interrompida pela falta de empenho ou de conhecimento, mas pelo ambiente hostil em que se veem obrigados a operar. O crédito, que deveria funcionar como combustível para o crescimento, frequentemente se transforma em uma armadilha que sufoca negócios antes mesmo de alcançarem a maturidade.

O sistema de crédito e seus obstáculos

O acesso a linhas de financiamento, em teoria, deveria ser uma solução para períodos de instabilidade ou para momentos de expansão. No entanto, as taxas de juros praticadas no país estão entre as mais altas do mundo. Esse cenário cria um ciclo perverso: o empresário que busca recursos para investir em estoque, maquinário ou capital de giro acaba comprometendo parte relevante de sua receita futura apenas para pagar encargos financeiros.

O resultado é previsível. O caixa da empresa se torna insuficiente, a capacidade de reinvestir cai drasticamente e, muitas vezes, a própria sobrevivência do negócio passa a depender de renegociações sucessivas — cada vez mais onerosas.

Outro fator que contribui para o colapso de muitos empreendimentos é a falta de apoio tempestivo. Políticas públicas, programas de incentivo ou até mesmo medidas emergenciais do sistema financeiro geralmente são disponibilizadas quando a situação já está crítica. O socorro chega, mas não resolve: muitas empresas já acumularam dívidas impagáveis, perderam credibilidade no mercado e estão prestes a encerrar as atividades.

Essa lentidão na resposta institucional cria uma sensação de abandono. O empresário, que deveria ser estimulado como motor da economia, sente-se isolado em meio a um sistema burocrático e ineficiente.

É importante destacar que, na maioria dos casos, o fracasso empresarial não decorre de má gestão ou de desinteresse dos empreendedores. Pelo contrário, a rotina desses profissionais é marcada por longas jornadas de trabalho, renúncias pessoais e investimentos contínuos em capacitação. Ainda assim, mesmo com esforço e dedicação, os obstáculos estruturais — juros exorbitantes, carga tributária elevada, insegurança jurídica e falta de apoio efetivo — tornam inviável a continuidade de muitos negócios.

O fechamento de uma empresa não representa apenas o fim de um sonho individual, mas também a perda de empregos, a redução da circulação de renda e o enfraquecimento da economia local. Por isso, atribuir o insucesso exclusivamente à figura do empresário é simplificar um problema muito mais complexo e sistêmico.

Conclusão

O fracasso de uma empresa no Brasil raramente é resultado da falta de empenho do empresário. Na maioria das vezes, ele é consequência direta de um sistema financeiro e institucional que sufoca, em vez de apoiar. Reconhecer essa realidade é o primeiro passo para construir soluções efetivas e transformar o ambiente de negócios em um espaço de oportunidades, e não de armadilhas.

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